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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Bons Sons - crítica Culturesco

Tarda (muito) mas não falha. É este o momento em que vais saber a nossa opinião sobre o nosso último festival deste ano. É verdade… as aulas estão quase a começar, o trabalho também, e isso normalmente vem associado ao fim do verão, e naturalmente que os festivais se acabam. Assim sendo, aqui pelo Culturesco optámos que a melhor maneira de terminar a nossa vida festivaleiro-campista era num evento totalmente desconhecido para nós e que se apresentasse uma verdadeira alternativa a tudo o que vivemos até então.

Qualquer ideia que possam ter de um festival esqueçam-na. O Bons Sons foi mais do que um simples festival. Foi a vivência de música desconhecida mas de grande valor, foi a descoberta de uma aldeia e das suas gentes, foi o aprender que com pouco se pode fazer muito, e foi, acima de tudo, saber que as ideias nunca se esgotam. Se não vejamos, quem se lembraria de fechar uma aldeia, dar aos seus residentes uma pulseira de livre acesso, e durante um fim-de-semana viverem música, juventude, família, espírito livre e alma campista? Foi isso que encontrámos no Bons Sons’10. A aldeia escolhida dá pelo nome de Cem Soldos e fica muito perto de Tomar.

Em termos de música o que nos foi apresentado foi uma mão cheia de talento nacional. Dead Combo apresentaram o seu instrumental mais noctívago, e já os Melech Mechaya a festa da música com um palco imparável e com músicos exímios na arte de entreter. Depois tivemos direito a Terrakota e Dazkarieh, com músicas conhecidas do público, com anos de estrada, com álbuns editados e com uma energia fantástica, inundaram o largo Lopes-Graça (o principal largo da aldeia que acolhia o principal palco do festival) de boas-vibrações! Depois tivemos os Diabo na Cruz e os Diabo a Sete – duas bandas com a inspiração maléfica mas com muito boa música: dois grandes concertos, dois grandes momentos de verdadeiro valor artístico nacional – uns vêm de Coimbra (Diabo a Sete), os outros de Lisboa (Diabo na Cruz), uns têm história de alguns anos (Diabo a Sete), e os outros existem desde 2008 e são, para muitos (os ditos ‘entendidos na matéria’) a revelação da música nacional de 2010 (Diabo na Cruz) – apesar das diferenças, ambos nos deram grandes momentos, e deram ao Bons Sons’10 mais razões para se orgulhar! Passaram pela Igreja da aldeia Lula Pena e Norberto Lobo em dois concertos lotados ao que sabemos (porque fomos descobrir os arredores e não conseguimos chegar a tempo). B Fachada também subiu ao palco a solo (mais tarde subiu ao mesmo palco mas com os Diabo na Cruz), e conseguiu mais audiência na sua segunda prestação do que na primeira. Houve ainda tempo para dois espectáculos de Música para Crianças (estava apenas previsto um, mas a organização rapidamente encontrou outro horário para todos aqueles que não conseguiram assistir à primeira edição, porque lotou a sala num abrir e fechar de olhos); houve uma apresentação de dança com o espectáculo Madmud (também um sucesso!); houve duas sessões de curtas-metragens; houve uma tarde de domingo repleta de música tradicional com os Drama & Beiço (banda de Tomar que 40 minutos depois da hora prevista ainda não tinham subido ao palco – o que nos levou a desistir de os ver), com os Cantares Alentejanos de Serpa (os mesmo que passaram pela Zambujeira do Mar na bem-sucedida iniciativa Singalong Alentejano), e as Adufeiras de Monsanto; houve tempo para a passagem do documentário: «Significado: a música portuguesa se gostasse dela própria» (que passou em estreia no IndieLisboa deste ano); e houve tempo para nas três noites um dj animar os mais resistentes pela noite dentro (grande falha, ou grande ‘coisa-sem-sentido-nenhum’ que aconteceu com a dj Boopsie Cola, não?). Mas enfim, houve ainda tempo para encerrar com Fausto, o cantor da intervenção portuguesa que conta já com mais de trinta anos de carreira e que há algum tempo apresentou o espectáculo «Três Cantos» com Sérgio Godinho e José Mário Branco no Campo Pequeno.

Uma das particularidades deste Festival, e que em muito contribui para o seu verdadeiro sucesso, é o de em todas as edições existir um país da lusofonia convidado. E se na edição anterior esse país foi o Brasil, este ano o eleito foi Cabo Verde e de lá até Cem Soldos voou um Princezito que encantou e marcou a primeira noite de Bons Sons – a melhor maneira de começar!

Entretanto existiu uma ou outra falha de segurança, existiu um campismo com pouca sombra, mas o que fica é uma vivência única que em 2012 contamos repetir (porque só se realiza de 2 em 2 anos). Ainda carente de confirmação, ouvimos dizer que foram vendidos muitos acessos ao festival e que esse número superou todas as expectativas. Tirámos algumas fotografias que brevemente estarão disponíveis na nossa página do Facebook – adiciona-nos! E depois de tudo isto queremos deixar duas ideias: 1 – como é que um festival de aldeia, com um bilhete diário de 6 euros e apenas com música portuguesa (excepção feito ao Princezito) consegue melhor ambiente, melhores resultados do que os ditos ‘grandes festivais’?, e por último uma sugestão simples e que ao que parece seria eficaz: aldeias de Portugal, vejam o exemplo de Cem Soldos e façam nascer iniciativas como o Bons Sons – de certeza que não se iriam arrepender! Lembrar que tudo isto foi organizado por um grupo que quer privilegiar a sua aldeia em termos desportivos e culturais no formato de uma associação sem fins lucrativos: ainda há bons exemplos em Portugal – pena que poucos os copiem… Mas aqui pelo Culturesco ficámos fãs!

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