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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Festa do Avante - crítica Culturesco*

Falemos de Música: No primeiro dia, com as portas do recinto a abrir às 18h, o resto da noite foi preenchida pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa, (Maestro Vasco Azevedo) num concerto de tributo aos 25 anos da Carvalhesa. Mário Laginha, António Victorino D´Almeida e António Rosado foram alguns dos ilustres convidados. Foi impossível assistir ao concerto na integra, no entanto, uma boa sonoridade, e um bom andamento estiveram presentes. A organização da Festa do Avante, aposta todos os anos num primeiro dia muito soft, sempre dedicado a música mais para o clássica, permitindo aos visitantes passear pelo recinto, embalados ao som de violinos, pianos, trompetes e tambores, enquanto comem uma bela sandes de Lombo de Porco.

No segundo dia, podemos deliciar-nos com Diabo na Cruz, um concerto cheio de andamento, cheio de energia, que despertou em todos nós uma vontade enorme de dançar, e acabou por tornar o sol abrasador que se fazia sentir, muito mais suportável. Este concerto contou com a presença de António Victorino D´Almeida no palco, e foi pena só ter a duração de 40 minutos, porque a energia e boa-disposição dos músicos, é contagiante. Com o avançar do dia, decidi trocar Deolinda (por não ser grande apreciadora da banda. Mas quem lá esteve, diz que foi um bom concerto) e preferi ir ver A NAIFA. Como explicar este concerto? Misturem Fado e Pop no mesmo copo, e depois digam-me o que vos deu, pode ser? É isso que são os A NAIFA. Uma banda cheia de musicalidade, na perfeita voz da Maria Antónia Mendes, óptima para balançar, e fechar um bocadinho os olhos se puder ser.

Nessa mesma noite, ainda consegui ver Bernardo Sasseti Trio (Alexandre Frazão na bateria, Carlos Barretto no baixo) num concerto que não foi banal, que teve devaneios (por parte de Sassetti), que teve momentos de explosão (por parte de Frazão) e que arrecadou muitas palmas no final. É Jazz, e o Jazz é sempre imprevisível e bom de ouvir.

Para fechar a noite, rumei ao palco principal, para tentar ouvir Pedro Abrunhosa. Não dá, não consigo. A meu ver, algo de errado se passa com aquele senhor. Um concerto incrivelmente longo, (um bom caso, onde a organização da festa, poderia estabelecer os belos 40 minutos de concerto que estipulou para todos os outros artistas.) com muita conversa, pouca música, tentativas falhadas de entertainment, e uma versão desastrosa do Hallelujah. Tocou poucas músicas, arrastava a coisa de tal maneira, que cada música acabava por ter 6 ou 7 minutos. Não, não gostei do concerto.

Passando para Domingo. Começamos o dia a ver Os Dias De Raiva. Presenteados mais uma vez com um sol abrasador, os ilustres convidados também tornaram a coisa mais fácil de suportar. Uma mistura de punk-hardcore, metal e o thrash metal, resultou num belíssimo concerto cheio de energia. Visto da segunda fila, e sem qualquer tipo de moche por perto, consegui deliciar-me com as mensagens de cada uma das músicas, com a loucura, irreverência e raiva do Carlão (vocalista e homem da minha vida) e com a constante interacção com o público. A interacção com o público, é algo que para mim, é fundamental a qualquer concerto a que vá. Aqui não faltou. Os Dias de Raiva, um projecto que já conhecia, não me desiludiu de todo. Muito pelo contrário, um estilo de música que aparentemente não parece bom de ouvir, mas que acaba por se revelar um excelente libertador de...raivas.

Seguiu-se Expensive Soul, num concerto com uma Vibe super poderosa. Puxaram tanto por nós, fizeram-nos saltar tanto, fizeram-nos gritar e bater tantas palmas. Tudo isto às quatro horas da tarde. Toda a gente conhece a sonoridade de Expensive Soul, como tal, o concerto foi isso mesmo, boa vibe, no estado mais puro. Tão puro, que os artistas nem queriam acreditar no que estavam a conseguir fazer com aquele público que alinhava em tudo o que eles sugeriam. Um concerto a recordar.

Vimos ainda Dazkarieh. Ia com expectativas altíssimas para esta banda. Talvez por isso, e aliado ao cansaço, não desfrutei em pleno deste concerto. Estive sentada, e não arranjei motivações para me levantar tirando uma ou outra altura. Pouca interacção, pouco movimento, pouco ritmo. Gostei no entanto, não tanto como estava à espera.

Para fechar a noite vi Tim e Companheiros De Aventura, um projecto que não conhecia. Ao início, com a Dulce, estava um concerto bastante calminho, e como era a última noite, a malta queria era agitação. Mas a coisa mudou de figura, quando entraram António Victorino D´Almeida, Rui Veloso, e Mário Laginha, acabando por tornar a segunda parte do concerto, cheia de ritmo e vontade de pular. Foi o encerrar perfeito para a última noite da festa. Brindaram-nos com o fantástico Postal dos Correios, com um Maria e Homem do Leme à capela.

Falemos agora de Comida: Como vos disse, a Festa do Avante, é rica em gastronomia. E mais uma vez, como era de prever, a gastronomia estava lá toda em peso. Até aqui, tudo muito bem. A tarefa de experimentar novos "pitéus" fica sempre a meio do caminho, quando nos deparávamos com as filas E-N-O-R-M-E-S e nunca rápidas, que se nos apresentavam. Os empregados da Festa do Avante já têm a sua certa idade, e não estão nada habituados a esta movimentação da "cidade", acabando por tornar o processo de pedir alguma coisa, mais demorado que o normal. A vontade perdia-se quando nos aproximávamos da Madeira, e víamos uma fila de 300 pessoas. Ainda me consegui deliciar com belas comidinhas, não seja por isso. E para vos ser sincera, acho que aquela bifana extra-picante, ainda me está aqui a trabalhar no estômago.

Falemos do Acampamento: O parque de campismo da Festa do Avante, tem muito poucas sombras, e é muito pequeno. As filas de entrada são intermináveis e é sujo. É aqui que a coisa falha muito. Chega a sexta-feira e já ninguém tem lugar no parque de campismo. Optamos por acampar numa mata ali bastante perto do recinto. Conseguimos desfrutar de boas sombras e..... mais nada. Não tínhamos casa-de-banho, mas se andássemos uns 5-7 minutos, conseguíamos ir a uma casa-de-banho que cheirava a pão. Também não tínhamos chuveiros, problema resolvido, tomando banho no recinto. Tínhamos no entanto carros de trance até às 5 ou 6 da manhã e Vuvuzelas. Mas ninguém vai a este tipo de coisas para dormir, por isso, é entrar no espírito e aguentarmo-nos à Bomboca.

Falha na Festa do Avante, os concertos só terem a duração de 40 minutos.

O saldo da Festa do Avante foi mais que positivo. É uma festa que nunca me desiludiu, que me trás sempre boas recordações, que me proporciona boa música, bom ambiente, e boa comida. É preciso mais alguma coisa para sermos felizes?

*Texto de Catarina Brandão (correspondente Culturesco na Festa do Avante).

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